Escrita na atmosfera do pós-guerra, o espetáculo é uma obra bastante conhecida e representativa do universo beckettiano. Composta de um único ato, retrata os dois protagonistas, Hamm e Clov, reclusos num abrigo, sofrendo com a escassez de alimentos e remédios. O enredo transcorre em torno de uma possível partida de Clov, enquanto Hamm, seu decrépito senhor, paralítico e cego, administra o fim das provisões: alimentos, remédios, sonhos, ideais. Os pais de Hamm, Nagg e Nell, acentuam as relações de dependência e solidão, num paralelismo constituído de forma grotesca, e, ao mesmo tempo, poética. Vidas humanas recolhidas num ambiente fechado, claustrofóbico; no espaço externo, um mundo em destruição. Nesta atmosfera trágica, diante de uma situação desordenada e caótica, os diálogos são preenchidos do humor cáustico desses representantes da humanidade. Fim de partida é um ensaio sobre o enigma de nossa condição, segundo Beckett, desumana.
Considerado um dos maiores da dramaturgia mundial, Beckett constrói com precisão a arquitetura do seu texto: Fim de Partida trabalha rigorosamente com o ritmo da fala e o tempo da pausa, criando uma partitura quase musical. E apesar do apocalíptico cenário de suas personagens, onde tem lugar o vazio existencial, a ausência de sentidos e o nada, a peça traz um humor ferino, sintetizado na fala de Nell: “Nada é mais engraçado que a infelicidade”. Por outro lado, o cômico também surge quando Beckett expõe, de forma metalinguística, o plano dos atores em cena, evidenciado em falas como a de Ham: “Estou repassando meu monólogo final”.
A montagem da Alfândega 88 traz quatro atores da Cia. que integram também seus demais espetáculos: Adriana Seiffert, Leonardo Hinckell, Rafael Mannheimer e Silvano Monteiro. A iluminação criada por Aurélio de Simoni, premiado iluminador e integrante da Companhia, assim como o texto de Beckett, prima pelo essencial: buscando a síntese, acentua o clima de crueza e escassez proposto pelo autor ao mesmo tempo em que destaca o jogo dos atores. Responsável pelos figurinos, Raquel Theo trabalha com as rigorosas descrições da indumentária presentes no texto para desenhar as personagens. E Sergio Marimba transporta para a cena a textura do pós-guerra com um cenário inspirado nos bunkers que serviam de abrigos, e que, ao mesmo tempo, aponta para a metalinguagem do texto de Beckett, materializando o aspecto lúdico e ressaltando sua teatralidade não realista.
SERVIÇO
Estreia: 12 de Fevereiro (quarta-feira) às 21h
Temporada: 18, 19, 25, 26 de fevereiro e 11, 12, 18, 19, 25, 26 de março
Horário: terças e quartas, às 21h
Local: Teatro Ipanema (Rua Prudente de Morais, 824, Ipanema, Rio de Janeiro)
Preço: R$30,00 (inteira), R$15,00 (meia: estudantes, idosos, professores de rede pública) e R$ 5,00 (estudantes de teatro e classe artística)
Classificação etária: 14 anos
Duração do espetáculo: 90 minutos
Gênero: Drama